O sonho da casa própria cada vez mais distante: como os juros altos afetam a classe média

Kenlo
Conteúdo criado por humano
26 fev, 25 | Leitura: 7min
Atualizado em: 26/02/2025
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Atualizado em: 26/02/2025
Adquirir a casa própria sempre foi um dos principais sonhos de consumo dos brasileiros, especialmente para a classe média, que depende do financiamento imobiliário para tornar esse objetivo uma realidade. No entanto, 2025 promete ser um ano desafiador para quem deseja comprar um imóvel.
A combinação de juros elevados, inflação acima da meta e a retração do crédito imobiliário está tornando esse sonho cada vez mais distante. Segundo a Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip), os financiamentos com recursos da poupança devem recuar entre 15% e 20% neste ano, totalizando cerca de R$ 155 bilhões. Essa será a terceira maior queda da história do setor, atrás apenas dos anos de 2015 e 2016, marcados por uma forte recessão econômica.
Neste artigo, vamos explorar os principais fatores que estão dificultando a aquisição de imóveis para a classe média e como esse cenário impacta o mercado imobiliário.
Nos últimos anos, o mercado imobiliário experimentou um crescimento impulsionado pela taxa Selic em patamares baixos. Em 2020, a Selic chegou ao seu menor nível histórico de 2% ao ano, o que incentivou o crédito imobiliário e aqueceu as vendas de imóveis. Entretanto, a partir de 2021, a Selic voltou a subir, e em 2025 a previsão é que atinja 15%, o maior patamar desde 2006.
Essa alta tem um efeito direto sobre o financiamento imobiliário. Com taxas de crédito cada vez mais caras, as parcelas dos financiamentos se tornam mais pesadas, reduzindo a capacidade de compra dos consumidores. Em dezembro de 2024, os juros do crédito imobiliário de mercado já estavam em torno de 18% ao ano, tornando o acesso ao financiamento ainda mais restrito.
Outro fator que agrava a situação é a fuga de recursos da poupança. Com o aumento da Selic, investidores buscam alternativas mais rentáveis, retirando dinheiro da caderneta de poupança, que financia grande parte dos créditos imobiliários. Entre 2021 e 2024, os saques superaram os depósitos em R$ 209 bilhões, reduzindo a disponibilidade de recursos para novos financiamentos.
O resultado é um mercado mais restritivo, com condições de crédito mais duras e um volume menor de unidades financiadas. Em São Paulo, por exemplo, o estoque de imóveis novos financiados com recursos da poupança caiu 31% em 12 meses, segundo dados do Secovi-SP. Essa queda reflete o desaquecimento do setor e a dificuldade crescente da classe média para adquirir um imóvel.
A classe média brasileira enfrenta um duplo desafio: o aumento do custo do financiamento e a perda do poder de compra devido à inflação. Em 2025, a renda real da população está sendo corroída pelo avanço dos preços, reduzindo a capacidade das famílias de assumirem financiamentos de longo prazo.
Além disso, os bancos estão mais rigorosos na concessão de créditos. Desde novembro de 2024, a Caixa Econômica Federal aumentou o valor da entrada exigida e limitou o preço dos imóveis financiados a R$ 1,5 milhão. Acima desse valor, os compradores precisarão recorrer a linhas de crédito com taxas livres, que já chegam a 18% ao ano.
Para ilustrar o impacto dos juros altos, um imóvel financiado de R$ 500.000, que em 2020 poderia ter uma parcela mensal em torno de R$ 3.500, agora tem parcelas superiores a R$ 6.000. Esse aumento torna a compra inviável para muitas famílias de classe média.
Diante da retração da demanda por imóveis de médio padrão, as incorporadoras estão reavaliando suas estratégias de mercado. Muitas estão migrando para o segmento de habitação popular, focado no programa Minha Casa, Minha Vida (MCMV), que recebe incentivos do governo e tem financiamento garantido pelo FGTS. Com o desemprego em 6%, o fluxo de recursos para o fundo continua forte, assegurando um mercado estável para essas construtoras.
Por outro lado, o setor de alto padrão também tem recebido maior atenção. Nesse nicho, os clientes têm maior capacidade de pagamento à vista ou acesso a linhas de crédito diferenciadas. Assim, muitas incorporadoras preferem apostar nesse público para garantir margens de lucro mais elevadas.
Essa reconfiguração do mercado impacta diretamente a classe média, que encontra cada vez menos opções viáveis de financiamento.
O mercado imobiliário deve continuar enfrentando desafios ao longo de 2025. Com a previsão de juros elevados e restrição do crédito, a classe média precisará buscar alternativas como consórcios, negociações diretas com incorporadoras e maior planejamento financeiro.
Medidas governamentais também podem influenciar a retomada do setor. Caso haja incentivos para financiamentos, redução de impostos ou novos programas habitacionais, o cenário pode se tornar mais favorável para os compradores de médio padrão.
O sonho da casa própria está cada vez mais distante para a classe média devido ao cenário econômico desafiador. A alta dos juros, a retração do crédito e a inflação impactam diretamente o setor imobiliário. Planejamento e alternativas financeiras serão essenciais para quem deseja conquistar a casa própria nos próximos anos.